talvez de cada dez palavras você entenda quatro. lembro do seu jeito de rir quando usei a palavra expelir. assim que lembro do seu jeito de rir me vem spell. sabe o que você me deu vontade? colocar uma mesinha na praça. cadeiras. sentar ao seu lado. nos dispor a escrever e enviar cartas. costurá-las em livros pequenos. carregá-las em zigue zague na rua. acreditar muito em promessa nenhuma é amar o som da palavra. você me lembrou que na descida dá pra gritar uhul. quantos poemas são necessários para a palavra fazer uma casa em taipa de pilão? tudo que é possível ser sem esforço e com cuidado para não espanar. um pouco de contorno é conseguir voltar para a ideia que me trouxe até aqui.
ao invés de pensar que é outro idioma pensar que são outras palavras. assim como as coisas tem muito nomes. assim como o destino a que se refere tem muitas possibilidades. as fronteiras que a gente inventa. os anos que nos separam. todo o tempo e todas as coisas que a gente faz enquanto se olha. penso na sua letra no canto do livro. como aprendo a te ver de olho fechado.
talvez eu não seja discreta apenas use uma mídia muito antiga para cometer indiscrições. a melhor coisa das cartas é que se o remetente não quiser ficar com o papel as palavras sempre podem voltar. acho bonito saber sair. fazer silêncio. tem coisa que fica melhor dita de madrugada. ser um bicho com muito pouco pêlo. ser a pele o maior órgão. experimentar deitar sobre o seu corpo de outros jeitos sem precisar pedir.
escreveria todos os dias cartas para o oiapoque se o carteiro da sua rua não passasse a me odiar. te prometeria notícias uma vez por mês sem te explicar como eu conto os dias. isso é tudo o que sei omitir de você. eu sentiria falta do sorriso que você faz quando a pergunta é íntima. e o outro que você faz para voltar atrás do que disse. e me sentiria sortuda porque conheço os dois.
daqui a pouco é sexta e você diz que vem. o nome do que você me faz sentir é vontade e não precisamente desejo. o que eu quero dizer com isso eu soprei numa noite porque eu precisava de vento. e o vento que bate enquanto você deita a cabeça na janela do carro é um momento de pedido.
é bom poder esquecer de te lembrar. não ser responsável como esperado e andar na cidade tomando chuva. soltar sua mão para sentir ela entrar de novo. ter um tempo de transformação entre a pia e a gaveta. se surpreender com os dentes que passam por ali. não vou explicar os mistérios quem guarda sempre tem. você me leva para passear enquanto eu te mostro o caminho.
viver a vontade por uma mulher é uma sequência de sim