diário de viagem #1

Published May 25, 2024

as palavras son mi ausencia particular.
como la famosa “muerte propria”
em mí hay una ausencia autónoma hecha de lenguaje.
no compreendo el lenguaje y es lo único que tengo.



toda viagem começa com um abandono. digo a frase mais pela força da ideia do que pela convicção.
pode-se começar uma viagem de muitas maneiras.

você precisa me dizer o que é começo e o que é viagem
e parar de procurar tanto as pontas afiadas.

fica para depois alguns abandonos. tem palavra que precisa circular pra dar saciedade. aprendi que a folha tem o sentido da fibra para dobrar melhor. o que precisa mesmo ser escrito? falando sério, qual a tosse que não passa com um bom chá de alho. esqueci qual era o ponto mesmo nessa de pensar o melhor título. se o verso respira ou estrangula. confunde.

deixar de preferir a frase é o primeiro abandono,

me planejo para adiar. ganhar tempo da covardia. tenho certeza das camisas. o meu lado do sol. o tênis. a parte das blusas que não preciso. o que não quero ver. como eu poderia ficar parada adiante sem ninguém. se eu aguentasse um pouco mais o vento. ganhar tempo para te ver ofegar o dia. conversar muito tempo sério de repente rir.

a primeira vez que você preferiu o abandono
a hora que o bicho decide soltar
ficam-se os anéis os dedos o tamanho que tem o céu
presença nenhuma

a forma como você sempre lembra de onde vem uma divagação. não vou criticar as pequenas lembranças. a piada toda num olhar cruzado. como falo sério para te disfarçar como cúmplice.
chorar com você foi mais fácil que abandonar um velho hábito
e acontece com mais frequência
ao que parece

antes de mais nada
o que precisa mesmo ser escrito?

faço lista do que posso esquecer
checo direção
pego outro sentido
como é o movimento pendular das mãos - que agarram
- sendo usadas para sinalizar a dividida

as coisas que se depreendem
que saltam sem voz de comando
do alto da carne da cabeça
das entranhas dos meus buracos
antecipo sua saída com a minha
quero chorar quando te vejo ainda só faço o que devo

detesto roupa de banho
chego a brilhar água de mar
as partes que poderiam me soltar permanecem sobre o mínimo molhado
o tórax reto na força elástica do meu peito
entrar em terra de tubarão na maré baixa tendo pé sertanejo

o que precisa ser dito antes para reduzir os danos do futuro?

tudo espalhado
descategorizado
um dia por vez

o que deixo para trás para poder voltar
o que precisa ser menos dito
meu exercício de silêncio e sumiço
as malas abertas esperando qualquer coisa para fechar o zíper
o acúmulo de energia para gerar o início

as palavras são as coisas
se couber
o que pede para ser escrito.