(rondar o fantasma é alimentá-lo)
a melhor maneira de resolver um fantasma é deixar ele ir.
— as vezes sinto que deixar ir embora é deixar de perguntar por quem eu sou e,
assim me prossigo,
faço postura de nadar com medo mesmo.
de alguma forma fantasmas também são bordas,
nadar com eles não me faz sentir à deriva. e, aliás
o que seria nadar com medo mesmo?
— não saber se dessa vez a água vai inflamar o nariz, ou
se já estou no exato ponto histórico individual coletivo
em que respiro com as guelras que precisava após
— isso parece mais curiosidade que medo.
eu estou sempre com a cabeça para fora.
— ainda permaneço dentro d’água
até porque não a controlamos
julgamos ir até o ponto que podemos dizer não, mas
— quando vê até água-viva queima.
— se você bóia e a água cobre os ouvidos
e os braços ficam menos maciços
e as pernas flutuam na superfície como no vão da beira de uma cadeira
e os olhos deslizam para a acústica interna
(você não percebe nunca as coisas de perto?)
e não importa onde está o seu nariz
ou as guelras que você idealizou
as vezes queima,
as vezes é o abraço de maior cobertura que você receberá.
(as vezes são os dois)