que haya lenguage en donde tiene que haber silencio
qual é o tom correto para assumir diante de vocês? é tão antigo que não lembro se carrego isto ou sou carregada por. aprendi a confiar antes de aprender o que é violação. e se não soubesse da confiança no momento de aprender da violação, ela ainda assim sentiria o golpe? me irrompem ódios me necrosa incompreensões me borra as bordas de mim apenas construídas porque os outros. meu jarro remendado que é sempre em seu íntimo um jarro quebrado. a despeito de tudo, te oferto água. ali, diante do horror, a única criança que pode suportar sem espernear. i'm not brave. e inventei um método: você encosta na parede mais gelada da sua casa. você não precisa tirar a roupa. de preferência encosta bem o rosto. fecha bem os olhos. e canta com os ossos, no miolinho dos ossos, bem baixinho. talvez o ar comece a condensar na parede. não distraia de manter cantando os ossos que não quebram. não esquecer é importante. não lembrar o tempo todo também. i'm not brave.
i'd do anything for you
i'd do anything for you
i'd do anything for you
i'd do anything for you
[...] compartilho de seu medo de animal muito jovem na primeira noite das caçadas
já não sei mais o livro que tinha uma passagem sobre fazer uma mudez que diz. não pude quando queria, menti quando obrigada a falar. protegi adultos com dentes de leite. você não vai me ver espernear e me entender a partir disso é um lago de água rasa. estive desligada do meu corpo por uma questão de sobrevivência como as plantas que se fecham por economia energética. acumulei um certo número de impressões porque me ocupei em olhar a coragem humana pro golpe. i'm not brave. na minha mudez que fala eu imagino. vou até o limite do conhecido, estico um bocado, mais um passinho. no hablará de mí, ni hablará de esto.
me sentir fisicamente cúmplice não se apaga com a consciência da inocência. não tem uma mísera palavra e eu imaginei tanto. não sei se isso me isola ou me torna mais capaz. ainda que meus instintos sejam de abandono minha esperança é de alguém não me abandonar. aí você resolve morrer assim como se fosse natural querer muito a morte e produzi-la para si. esse é um mundo que escolhe matar pessoas com bombas. a tiro. na cidade em que cresci a notícia que marca o auge do inverno é sobre a primeira pessoa que morre de frio na rua. alguém percebe o nível de crueldade a que chegamos? eu percebo? quero dizer que sua morte não me ofende tanto quanto essas. não me ofender não apaga a falta que sinto de você ao imaginar. é irreal demais imaginar que um dia minha mão colocaria sobre as suas mãos um livro escrito por mim. a sua mão imagino grande e de unhas feitas. porque não reparei só posso imaginar. é irreal demais imaginar você me lendo mais como literatura do que procurando a si mesma. fico nessa imaginação.
não vou espernear. trago sua semelhança comigo e dela faço um silêncio eloquente sobre a vida. refino meu choro na minha mudez. sigo de pirraça. preciso colocar energia em outra coisa que não seja só não morrer da sua morte, não morrer do golpe no ponto vital da minha confiança. si esto no me ha partido, ya no me partiré nunca
veo crescer hasta mi ojos figuras de silencio y desesperadas. escucho grises, densas voces en el antiguo lugar del corazón.
tremo de ver, calo na falta. isso não é uma metáfora, é como ezra pound defende que o poema confie na imagem concreta. cantei a marina lima o mais alto que pude e saí tremendo como um fato diante da minha pergunta. lembro muito bem de como me senti, embora me pergunte uma vez ou outra, com o que sonha os homens que me violaram? o que prometem para suas filhas enquanto choram? me irrita entender que, por melhor que eu esteja, vez ou outra cairei nesse buraco com vocês. quando o familiar e o fio da navalha são corpos que ocupam o mesmo lugar me confundo. ainda que exitante, falar. a verdade é um conceito difícil não um fato.
repito: sou sua versão que fica viva. sou sua versão que escreve para além das agendas telefônicas. que quando vai correr flana. a sua versão que bota mesa onde todo mundo come. acredita nos santos e nas crianças. não tem seu sorriso nem seu samba, mas levanta. não serei a última pessoa a te lembrar na terra porque aprendi a dividir meu sacerdócio, outras magias, a te espalhar na boca da cidade. onde tiver música lembro aquela com seu nome. viro primeiro pro santo, depois para você. te coloco num poema esquisito e franco, quiçá para ser impresso num livro duvidoso e franco, e em todas as caixas com as cópias legais ou piratas te espalhar de nome inteiro: alessandra. te fazer viver não porque você e eu. quem veio antes na primeira língua do mundo: saudade ou medo?
quando esse livro sair e atravessar as ruas da cidade que nós duas já experimentamos juntas, se puder me visita, se puder faz um dia quente, se puder senta comigo em qualquer bar com sinuca as mesas quadradas as cadeiras de plástico. te acendo um cigarro coloco a cabeça no chão te reconheço. se for o caso me puxa a orelha porque adiei tanto, se for o caso me faz saber se sente algum orgulho apesar de. se for o caso diz se quando me leu alguma coisa te vingou, porque é importante para mim acender as nossas lamparinas. se não for querer demais, que em todas as vidas você more em mim. não posso perder essa cabeça.
pode levar o corpo mas deixa a minha cabeça, não posso perder essa cabeça, estou pensando uma coisa junto de outras coisas e te juro se você deixar só minha cabeça ela vai comigo. porque quando você me coloca nesse cômodo escondido me imagino num chão de terra os animais me cheiram me identificam e me deixam ficar. se retiram olhando para trás. se você não levar minha cabeça consigo te imaginar tanto. meus cabelos e unhas nos imaginarão? si esto no me ha partido, ya no me partiré nunca
me permitir os maus versos para encontrar o bom. não achar que são bons só porque choro ao escrever. me manter escrevendo seu nome, botar num poema seu nome, botar o poema com o seu nome num livro para sobrevivermos, assim, do nosso jeito eu e você.
cuando a la casa del lenguaje se le vuela el tejado y las palabras no guarecen, yo hablo
me sinto quase o tempo todo atrasada mas não sei muito bem para qual compromisso. confusa entre seguir as regras, ignorar as regras, corresponder e me apartar. as vezes sei exatamente o que quero dizer, as vezes fico muito tempo em silêncio com a mesma imagem correndo no meu corpo. hoje mesmo, não sei o que quero dizer. alguma coisa se acalma, alguma coisa ainda pergunta. outra parte olha e espera. me pergunto sempre se escrever é uma fantasia que inventei para mim. e insisto mesmo sem caber. me olho na folha do caderno, não é paixão por mim, é a raiva uma espécie de laço? queria romper comigo e sigo dentro dessa voz interna. escrever é uma fantasia que inventei para atravessar essa vida? e se for o suficiente para manter meu corpo comigo, isso não é tudo? escrevo e me pergunto: eu sublinharia esse verso? todo sim é precário porque provisório? não sou abrupta, mas não sou pouco.
a quien retorna en busca de su antiguo buscar
la noche se le cierra como agua sobre una piedra
como aire sobre um pájaro
como se cierran dos cuerpos al amarse
meu primeiro ofício no mundo foi ser uma boa filha. meu primeiro ímpeto criativo foi falhar no meu primeiro ofício. lembro da chegada na casa da vó zezé garagem-cozinha-sala. a porta ao lado da padaria que levava para as escadas da casa da vó cida. as ruas de itaquera no final de semana. como era grande o pátio do colégio enquanto esperava alguém me buscar. o quintal com árvores da casa da dona ana. apertar os olhos e ficar procurando padrão nas luzes coloridas que apareciam à força. lavar a louça para brincar de espuma em cima de uma cadeira encostada na pia. o lençol com padrões azuis e florzinhas vermelhas, bem pequenas, bem fino. hoje pensei muito em morte, lembrei de me trancar entre a janela e a grade de proteção. em algum lugar estava escrito imaginação no poder.
agora o seu bem mais elevado é atingir o ponto onde tais metas de excelência tornam-se insignificantes para si, emocional e eticamente, e ele fica mais satisfeito por estar em silêncio que por encontrar uma voz na arte
silêncio como "uma ordália que finda na conquista no direito de falar".
fiquei esperando você gritar, era a sua vez de gritar. depois seria a minha, eu iria e poderia esperar. depois de você, eu. mas se você não grita então fico sendo impedida. seu luto de anos porque a sua família. meu luto de anos porque minha família. e a família deles também. trazemos à todos um tanto. como não ceder ao grito que você não dá? quanto medo é preciso acumular para querer tanta perfeição? não será a primeira vez que você vai ler: minha melancolia é doce. d'ocê. quero dizer minha melancolia é de você e me é esquisito querer ser leal quando não temos comuna para além da dor. você uiva e eu respondo. se você não falar eu também não. o bom silêncio não pode vir de uma renúncia da sua voz.
caer como un animal herido en el lugar que iba a ser de revelaciones.
cresci de bando. fiz uma promessa se ganhasse resgataria uma vida vieram duas, consegui um diploma de uma universidade que quase me matou nessa lealdade de toalha sem manchinha. faço parte de um bando bem lésbico: eu e meus dois gatos. desde os céus um tanto caranguejo outro tanto de cavalo. eu relincho só se ficar a vontade. deixo de enviesar.
[...] habla de lo que sabes. habla de lo que vibra en tu medúla y haces luces e sombras en tu mirada, habla del dolor incesante de tus huesos, habla del vértigo, habla de tu respiración, de tu desolación, de tu traición. es tan oscuro, tan en silencio el proceso a que me obligo. oh habla del silencio.
antecipo. deixo meu corpo em se abrindo. só as vezes eu antecipo. estou em acreditando emanando imaginando que as coisas podem acontecer. as vezes é quase tátil ser pessoa da palavra. das perguntas que posso fazer com as palavras. sobretudo, o que posso fazer das sombras da palavra. do que é etéreo. interdito. imprevisto. como conhecer a densidade da palavra? não sei se tenho intenções de produzir efeito ou só gozar no escrever. preciso me liberar primeiro.